terça-feira, 20 de março de 2012

Lembranças do olhar 1





Os olhos são as janelas da alma, da psique. Pelo olhar nos abrimos, nos expomos, despindo nossos sentimentos, virando a pele e a carne às avessas e deixando nu nosso próprio interior. E quanto mais um olhar se concentra, mais fundo os olhos mostram o que se pensa.

Lembrança 1:
De tempos em tempos, quando ela passa por momentos profundamente reflexivos, que já chegaram a durar dias, seus olhos se tornam parcialmente espelhos, expressando com perfeição e beleza o estado de sua alma. Sinto-me um detetive a observar através de um daqueles espelhos que refletem de um lado, a investigar alguém que só consegue ver sua própria imagem repetida, seu próprio reflexo. É a mente olhando pra si mesma, conversando com ela própria, com suas ideias e lembranças, seus sentimentos...

Lembrança 2:
Lembrei agora que ela sentia medo no início, quando eu a fitava, achando ela que eu iria descobrir, desvendar todos os seus segredos. Há muito tempo não a olho assim, naquela época era algo incontrolável. Hoje o encanto e a curiosidade são calmos e pacientes, não devoram mais. Acho que com o passar dos dias, meses e anos, ela vem me ensinando a tomar cuidado com o meu olhar, que consegue ferir tanto quanto palavras cruéis...

Lembrança 3:
Gosto de observar olhos, pulsando, coloridos pela própria íris, que também concede certo relevo ao olhar. A pupila, infinita e estreita, como se fosse explodir a qualquer momento, mostrando o vazio escuro repleto de mistérios quase ilegíveis... 

Olhos me embriagam...